O plano do governo Biden para reaproximar EUA e Brasil- Papel-chave dos fertilizantes nisso
Após demonstrar publicamente insatisfação com a viagem do presidente Jair Bolsonaro (PL) à Rússia em fevereiro e avaliar que o Brasil pode estar do “lado errado” da história em relação à guerra na Ucrânia, o governo do presidente dos EUA, Joe Biden, parece estar tentando “recalibrar” a relação entre Washington e Brasília.
O plano americano
A Rússia é o maior exportador de fertilizantes para o Brasil, que consome cerca de 40 milhões de toneladas por ano do material, considerado essencial para movimentar o agronegócio do país e, portanto, a economia.
O produto já foi citado por Bolsonaro como motivo de sua visita em fevereiro a Vladimir Putin em Moscou. Mesmo depois do início da guerra, navios de bandeira russa ancorados no Brasil carregavam fósforo e potássio, dois dos elementos centrais para as plantações de soja, por exemplo.
Embora os fertilizantes não estejam na lista de produtos sancionados diretamente por americanos e europeus, o fato de o Brasil tentar manter o comércio regular com os russos no contexto da guerra causou desconforto entre os americanos.
Há duas semanas, em visita a Washington DC, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi questionado em evento no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais sobre se o Brasil estava facilitando para a Rússia contornar sanções. “Eu não colocaria nesses termos, facilitando… O Brasil é governado por um presidente que recebeu 60 milhões de votos e está pensando em fertilizantes, importados da Rússia”, justificou Guedes.
Mas a percepção de que a segurança alimentar do mundo poderia estar ameaçada e de que seria preciso ajudar a América Latina a construir soluções, em vez de criticá-la publicamente e empurrá-la para uma relação mais estreita com China e Rússia, levou os americanos a um outro caminho.
“O tema do fertilizante agrícola esteve bem presente na nossa conversa, eles sabem que é importante pra gente e estão engajados a nos ajudar a encontrar saídas, com outros parceiros, a partir de premissas positivas”, afirmou à BBC News Brasil o embaixador Pedro Miguel da Costa e Silva, secretário das Américas do Itamaraty.
Embora todas as opções e propostas ainda não estejam claras, o Departamento de Estado americano confirmou à BBC News Brasil algumas delas. Em 28 de março, o secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack, conversou com a então ministra brasileira da Agricultura, Tereza Cristina, sobre o problema. Antes, em 16 de março, Cristina e Vilsack estiveram em uma reunião com outros países das Américas para tratar do assunto.